domingo, 23 de novembro de 2014

DESTA VEZ NÃO FUI DEMITIDO

José Richa: um senador sob censura prévia (foto: Ivan Bueno)

Lá se ia o ano de 1992. Eu era professor da PUC-PR e chefe de redação da TV Iguaçu, em Curitiba.

No mural da redação havia uma relação de pessoas que não deveriam ser entrevistadas. De jeito nenhum eles poderiam aparecer. Era um "NQM" ao contrário.

O primeiro nome da lista: o senador José Richa (PDSB). Ele não aparecia nas TVs do Paulo Pimentel há dois anos. Nem em notícia boa, nem em notícia ruim. Era solenemente ignorado, mesmo sendo o senador mais atuante do Sul do País na época.

Mas quebrei essa ordem.

Foi num sábado, quando o Pimentel viajou.

Como a TV Iguaçu não tinha programação local nesse dia, consegui encaixar o senador no TJ Brasil, no SBT, na época comandado por Bóris Casoy.

Tive que tratar da entrevista diretamente com o Bóris... Ele não gostava muito do Richa. Achava o senador "esquerdista demais". Argumentei que ele era o relator da reforma política e tinha informações exclusivas para revelar em rede nacional.

Convencido o Bóris, foi montada uma estrutura além do meu poder.

A entrevista seria feita ao vivo, com o Bóris no estúdio do SBT em São Paulo, e o Richa no estúdio da TV Iguaçu, em Curitiba.

Tive que providenciar os cinegrafistas de estúdio, iluminador, maquiadora, operadores da suíte... Tudo. O pessoal operacional não era vinculado ao jornalismo. E todos estavam proibidos de fazer hora-extra.

Não podia falar que era uma entrevista com o Richa, senão me dedavam e acabavam com o combinado.

Inventei uma história de que o Sílvio Santos estava em Curitiba e ia levar alguém para ser entrevistado no TJ. Engoliram. Aí as autorizações foram dadas.

E à noite todos estavam a postos à espera do "patrão" maior, que não apareceu. No lugar dele, chegou, sozinho, o senador José Richa.

A entrevista, que deveria durar cinco minutos, durou 10. Foi muito boa.

O Pimentel soube depois que a entrevista foi feita.

E numa conversa na redação perguntou quem tinha contatado o Richa. Respondi (temendo pela minha demissão sumária)

-Fui eu.

E ele: "É isso aí. Precisamos pôr mais os paranaenses em rede nacional. Parabéns pelo trabalho".

Ufa! Desta vez não fui demitido.

E quando o Pimentel saiu, arranquei a lista dos "proibidos" do mural.

E enquanto trabalhei lá, mais dois anos, estas listas com censura prévia não mais voltaram a aparecer.

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