terça-feira, 25 de novembro de 2014

O PENTE DO ANO 
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Em 1986, fui agraciado com a "honraria". Foto: Porthos Casella
Na redação de “O Estado do Paraná” e “Tribuna”, da década de 1980, havia a eleição do “Pente do Ano”. O “pente” era uma abreviatura de pentelho. Numa redação enorme, escolher o mais “crica” era uma tarefa difícil. Tinha primeiro, segundo, e, às vezes, terceiro turno.
Fui eleito uma vez. Votação secreta e muito suspeita.
Havia “pentes” muito mais profissionais que eu. Por exemplo, o Sergio Quintanilha. Só que ele era o chefe e tinha a chave da urna... Outro profissionalíssimo era o Jorge Javorski. Ele foi o pai da moda do “peixe” na redação. Mas era muito chegado ao Quintanilha. Portanto...
Outro com currículo invejável era o Vanderlei Rebelo.


Ele foi o criador da guerra de bolinhas de papel nos finais de expediente e na hora do trabalho também. Mas ele fazia as matérias de política e era amigo do dono do jornal. Aí...
Roberto Elias Salomão, chamando todo mundo de “mula”, tinha o maior tempo de propaganda, ou seja, não saía da redação. Era chefe de reportagem e assim ó, com o Quintanilha...
Na reportagem fotográfica, o campeoníssimo era o Orlando Kissner, mais conhecido como "o agricultor". Para ele, tudo era abobrinha.
Tinha também os “pentes” com pós graduação em pentelhação. Eles chateavam, mas por meio de um marketing eleitoral bem elaborado se passavam por santos. Eram desse time o João Carlos de Santa, o Deonilson Roldo , Antonio Costa, Armindo Berri...
Por um casuísmo da “justiça eleitoral”, que tinha como presidente o nem sempre isento Francisco Camargo, as mulheres podiam votar, mas não podiam receber votos. E olha que entre as meninas havia muitas com currículo digno de vencer no primeiro turno.
Ah, e tinha dois candidatos que eram impedidos de concorrer, porque senão não tinha pra ninguém. Eles eram os pentes “hors concours”: Edson Osvaldo Melo e José Guilherme Assis...
OS GIGANTES TAMBÉM CHORAM
Orlando Kissner chora no último dia de funcionamento da Redação do jornal "O Estado do Paraná", em 7 de setembro de 2013.
Orlando Kissner é um dos maiores repórteres-fotográficos do Brasil. Atuou durante anos em "O Estado do Paraná" e "Tribuna do Paraná". Depois, foi para a revista "Placar", Agência Estado, "O Estado de S. Paulo", "Jornal da Tarde", Editora Abril...

Hoje, é o repórter fotográfico oficial do governador Beto Richa.
Nesta vida, já viu de tudo.
Já viajou o mundo.
Já ganhou muitos prêmios e reconhecimento.
Tarimbado, não é homem de se emocionar facilmente.
Mas ontem ele chorou.
Foi demais para ele ver a redação onde começou no jornalismo desmontada, vazia e condenada a desaparecer para sempre.
As lágrimas do Orlandão são as mesmas de muitos.
Ver uma redação grandiosa fechar dói.
É uma dor indescritível, porque o que doi não é o corpo.
É a alma.
É a nossa alma de jornalista.
O choro do Orlandão na redação que deixou de existir é uma imagem comovente.
É o simbolo das transformações por que que passam os jornais no mundo todo.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O JORNALISMO DE 2006 A 2019
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O jornal e os destaques da televisão paranaense à época. Foto: Marcelo Lancia
Passaram-se 25 anos. Mas as mudanças provocadas na comunicação de Curitiba, nesse curto espaço de tempo, parecem que foram produzidas em mais de um século.

Em 1996, na disciplina de redação jornalística na PUC-PR, da qual eu era o professor, os trabalhos semestrais eram a produção de um jornal que ocupasse os nichos do mercado. Um grupo de estudantes, capitaneados pelos hoje jornalistas Marcelo Lancia, Gilberto Ferreira e Marcelo Melero, criaram o "Quarto Poder", um veículo semanal que trazia notícias das redações, dos jornalistas e do mercado de trabalho em comunicação. A proposta acadêmica deu tão certo, que o veículo proposto saiu da sala de aula para ganhar vida própria no mercado.

Nesta edição, vemos que o mercado era muito, mas muito diferente do que é agora. Na época, três televisões investiam pesado em jornalismo e disputavam a audiência (e os anunciantes) com vários telejornais ao longo do dia.

Nas fotos da manchete do "Quarto Poder", os três diretores de jornalismo das emissoras de então: da esquerda para a direita, Marcos Antonio Batista, dirigia a equipe da RPC, Ricardo Kotscho, era o responsável pelo departamento nacional de jornalismo da CNT, em Curitiba, e Pedro Chagas Neto, comandava o então GPP (Grupo Paulo Pimentel), que sob seu comando deu um salto de qualidade e audiência nos telejornais.

Só estas três emissoras, empregavam quase 300 jornalistas. E a briga entre os jornais também era muito grande. Competiam no mercado a "Gazeta do Povo", "O Estado do Paraná", "Jornal do Estado", "Indústria & Comércio", "Tribuna do Paraná", "Correio de Notícias", "Diário Popular" e "Folha de Curitiba". Mas o jornal que produzia o melhor conteúdo e as melhores reportagens não era da cidade e, sim, do Interior: a "Folha de Londrina", que tinha uma sucursal enorme no Centro Cívico.

Na foto, o então diretor da sucursal da "Folha de Londrina", jornalista Deonilson Roldo , mostra como era a rotina de trabalho na redação que comandava. Os jornais eram os maiores empregadores de jornalistas no mercado. Mais de 500 profissionais davam expediente nas redações dos impressos em Curitiba.

Vinte e dois anos depois, de todos esses jornais só sobraram a "Folha de Londrina", sem ter mais uma grande sucursal, e a "Tribuna". A maioria fechou. Alguns, viraram sites, e um o "Jornal do Estado", virou "Bem Paraná", é impresso no formato tabloide e distribuído gratuitamente.

Deste mercado dinâmico e agitado, pouco ou quase nada resta.

A internet e a incompetência gerencial, em muitos casos, passaram como um furacão sobre esses veículos de comunicação não deixando pedra sobre pedra do que foram um dia...

domingo, 23 de novembro de 2014

DESTA VEZ NÃO FUI DEMITIDO

José Richa: um senador sob censura prévia (foto: Ivan Bueno)

Lá se ia o ano de 1992. Eu era professor da PUC-PR e chefe de redação da TV Iguaçu, em Curitiba.

No mural da redação havia uma relação de pessoas que não deveriam ser entrevistadas. De jeito nenhum eles poderiam aparecer. Era um "NQM" ao contrário.

O primeiro nome da lista: o senador José Richa (PDSB). Ele não aparecia nas TVs do Paulo Pimentel há dois anos. Nem em notícia boa, nem em notícia ruim. Era solenemente ignorado, mesmo sendo o senador mais atuante do Sul do País na época.

Mas quebrei essa ordem.

Foi num sábado, quando o Pimentel viajou.

Como a TV Iguaçu não tinha programação local nesse dia, consegui encaixar o senador no TJ Brasil, no SBT, na época comandado por Bóris Casoy.

Tive que tratar da entrevista diretamente com o Bóris... Ele não gostava muito do Richa. Achava o senador "esquerdista demais". Argumentei que ele era o relator da reforma política e tinha informações exclusivas para revelar em rede nacional.

Convencido o Bóris, foi montada uma estrutura além do meu poder.

A entrevista seria feita ao vivo, com o Bóris no estúdio do SBT em São Paulo, e o Richa no estúdio da TV Iguaçu, em Curitiba.

Tive que providenciar os cinegrafistas de estúdio, iluminador, maquiadora, operadores da suíte... Tudo. O pessoal operacional não era vinculado ao jornalismo. E todos estavam proibidos de fazer hora-extra.

Não podia falar que era uma entrevista com o Richa, senão me dedavam e acabavam com o combinado.

Inventei uma história de que o Sílvio Santos estava em Curitiba e ia levar alguém para ser entrevistado no TJ. Engoliram. Aí as autorizações foram dadas.

E à noite todos estavam a postos à espera do "patrão" maior, que não apareceu. No lugar dele, chegou, sozinho, o senador José Richa.

A entrevista, que deveria durar cinco minutos, durou 10. Foi muito boa.

O Pimentel soube depois que a entrevista foi feita.

E numa conversa na redação perguntou quem tinha contatado o Richa. Respondi (temendo pela minha demissão sumária)

-Fui eu.

E ele: "É isso aí. Precisamos pôr mais os paranaenses em rede nacional. Parabéns pelo trabalho".

Ufa! Desta vez não fui demitido.

E quando o Pimentel saiu, arranquei a lista dos "proibidos" do mural.

E enquanto trabalhei lá, mais dois anos, estas listas com censura prévia não mais voltaram a aparecer.
Este é um blog que irá contar um pouco da história, dos bastidores e das notícias dos jornalistas e das redações de Curitiba. As postagens começam em dezembro de 2014. Aguardem.